Campeonato, de Manoel de Barros

Campeonato
Nos jardins da Praça da Matriz, os meninos urinavam socialmente.
A gente fazia campeonato pra ver quem mandava urina mais longe.
O menino que mandasse mais longe era campeão.
Mas não havia taça nem medalha.
Umas gurias iam ver por trás dos muros a competição.
Acho que elas tinham alguma curiosidade ou inveja porque não podiam participar do campeonato.
Os meninos ficavam sérios como se estivessem defendendo a pátria naquele momento.
As meninas cochichavam entre elas e corriam de lá para cá, rindo.
O campeonato só era diferente da Fórmula Um
Porque a gente não tinha patrocinadores.
Manoel de Barros

Barros, Manoel de. O fazedor de amanhecer/ ilustrações de Ziraldo. Rio de Janeiro: Salamandra, 2001