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Lis no peito: um livro que pede perdão, de Jorge Miguel Marinho

Este semestre tive o prazer de cursar no doutorado uma disciplina acerca da Metaficção e dos recursos de que ela se vale, como a intertextualidade, plágio, bricolagem.


Foi uma delícia fazer esta disciplina, pois comecei a ficar mais atenta às obras que expõem diante do leitor os bastidores da ficção. Em minhas buscas por obras metaficcionais infantis, juvenis e adultas, cheguei ao romance Lis no peito: um livro que pede perdão, de Jorge Miguel Marinho (2006). Fiquei encantada com o requinte do emprego dos procedimentos de construção da metaficção nessa obra.





Não é à toa que Lis no peito..., de Marinho, recebeu importantes prêmios, como o prêmio Jabuti de melhor livro juvenil do ano 2006 e também de melhor projeto gráfico pela Câmara Brasileira do Livro (CBL); prêmio Orígenes Lessa de melhor livro juvenil, selo Altamente Recomendável – pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) e o Prêmio White Ravens pela Biblioteca de Munique.


Mas o que tem nesta obra de tão especial?


Lis no peito: um livro que pede perdão narra a história do adolescente Marco César e seu amor por Clarice, uma garota de sua escola e leitora da escritora Clarice Lispector, cuja referência está presente em toda a obra, inclusive na capa e no título.

Em um determinado momento da trama, Marco César vive uma desilusão amorosa e, em função disso, comete uma maldade imperdoável. Não vou dar spoiller. Após esse ato, o jovem pede a um amigo que escreva sua história para que os leitores a analisem e decidam se ele deve ser absolvido ou não da crueldade praticada.

Os 18 capítulos da obra trazem como títulos frases de obras de Clarice Lispector, as quais funcionam como prenúncio do que será lido em cada capítulo, revelando um diálogo entre os elementos paratextuais e a narrativa. Com maestria, Jorge Miguel Marinho estabelece um processo contínuo de intertextualidade entre a sua obra e a produção literária de Lispector, sem contar os diálogos entre o personagem-escritor e o leitor, o qual se vê inserido em um processo de coautoria na elaboração do texto literário.

Fica a dica para o jovem leitor, deixo também um techo deste livro:


"Quanto a mim, escrevo agora essa parte da história com a letra horrorizada, a mão trêmula, tem gosto de sangue na minha boca, acredite. [...] É medo e horror de estar dentro da vida e continuar vivendo dentro dela mesmo com todo o espanto... Por isso só consigo terminar esse capítulo com palavras e o grito das duas Clarices, a escritora e a menina possuída de susto, não me pergunte o porquê: “Era uma vez um pássaro..., meu Deus!” (MARINHO, 2006, p. 129).

Fico por aqui!

Um abraço!

Regiane Boainain





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